Gestão Tarcísio descumpriu meta de limpeza do rio Tietê em 2024
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) descumpriu a meta de limpeza do rio Tietê no ano passado. De 1,6 milhões de metros cúbicos previstos, foram retirados 1,4 milhões de resíduos, 12,5% abaixo do esperado, segundo dados da SP Águas, o antigo Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee).
Iniciada em 2022, a série histórica fornecida pela gestão estadual informa que foram removidos 3,2 milhões de metros cúbicos, ou 36% dos 5 milhões metros cúbicos considerados ideais para o período.
Em meio às chuvas na cidade de São Paulo, que já chegaram a 65% do volume previsto para o mês de fevereiro, bairros no extremo da zona leste na várzea do Tietê estão debaixo d'água desde o fim de semana, e sem previsão de retomar a normalidade.
Em comum, são vizinhanças, como o Jardim Pantanal, constituídas no mesmo nível do rio e, por isso, são afetadas a cada período de chuvas, quando o leito sobe e invade as casas, deixando os moradores ilhados por dias.
Apesar de ter executado menos do que o esperado, para este ano, a meta do órgão é retirar 2,6 milhões de metros cúbicos de lixo do Tietê, 85,7% a mais do que em 2024.
Segundo o diretor do SP Águas, Nelson Lima, as ações de desassoreamento no Tietê são contínuas, e não são a única solução para evitar alagamentos, como no Jardim Pantanal. "Ficamos um pouco abaixo da meta", diz.
Ele explica que, além da ocupação irregular de uma área permanente de proteção ambiental, bairros como o Jardim Pantanal têm episódios recorrentes de alagamentos por estarem no trecho do rio que permanece sinuoso, e não foi retificado e nem teve as margens alargadas, como o restante do curso mais próximo do centro da cidade.
O trabalho de retirada de lixo, que inclui carcaças de carros e todo tipo de resíduos, é feito em lotes e as contratações são feitas em etapas. Na área que banha o extremo da zona leste, por exemplo, foram desassoreados, no ano passado, 12 do total de 25 quilômetros. O restante será trabalhado a partir deste mês. "A efetividade está na continuidade", diz Lima.
O professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fernando Dornelles explica que, por se tratar de um rio que teve seu curso modificado, o Tietê demanda ações constantes de desassoreamento para garantir o escoamento.
Assim, embora importante, a retirada de resíduos não encerra em si os problemas de alagamentos, que inclui soluções de drenagem nas áreas afetadas e preservação das áreas de conservação ambiental. "Tudo indica que a meta está baixa já que ainda há problemas nos bairros", diz ao comentar os dados da agência SP Águas.
Como solução, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) apresentou um programa de remoção dos moradores orçado em R$ 1,92 bilhão, valor estimado para desapropriar cerca de 50 mil pessoas que vivem no local. O valor é quase o dobro do R$ 1 bilhão estimado pelo prefeito para concluir as obras de drenagem na região, capaz de resolver os alagamentos.
Para Liliane Armelin, professora de arquitetura e urbanismo da Universidade Mackenzie, a remoção dos moradores é a saída mais acertada, já que a área de várzea nunca deveria ter sido habitada por ser de proteção ambiental. "Toda vez que acontecer chuva de verão vai ter alagamento", diz. "Isso custa caro, mas seria mais barato se a prefeitura tivesse fiscalizado essas ocupações no passado", continua.
Além das remoções, a prefeitura estuda outras opções, que incluem construções de dique, reservatórios e um canal de 5,5 km para desviar a água da chuva. Reverter o fluxo do Tietê, como foi feito a partir da década de 1930 em outros trechos do rio, também está entre as opções.
Apesar de concordar que a modificação no leito possa ser eficaz para facilitar a drenagem da água em épocas de cheia, o professor Dornelles lembra que as políticas ambientais foram atualizadas, e que há preferência por manter o traçado natural do rio.
Na época em que o Tietê perdeu seu traçado natural, São Paulo era uma cidade com cerca de 1 milhão de habitantes no início do processo de industrialização, com a posterior construção das marginais.
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